terça-feira, 28 de setembro de 2010

A cada mil lágrimas, a prece por um milagre torna-se realidade; Milagrimas

Contarei a vós leitores um pouco da história deste pedagogo. Espero que apreciem esta informação, pois quando tomei conhecimento fiquei extremamente impressionado com o seu poder de reação e principalmente pela boa fé de algumas pessoas, algo raro no Mundo feroz em que vivemos hoje, onde amor, bondade, caridade e honestidade estão em extinção.
Sendo este garoto o caçula de uma família com dez irmãos, Roberto Carlos perambulou pelas ruas de Belo Horizonte (sua terra natal) até completar a idade de seis anos, quando sua mãe sem condições de criar todos os filhos o encaminhou até a Fundação do Bem Estar do Menor, conhecida atualmente com Fundação Casa (extinta Febem). Na época, o recém criado projeto visava uma condição de vida melhor as crianças pobres, tendo como slogan "Mande-nos seu filho, mas escolha antes a profissão que deseja para ele (a); e assim será"; Mas a realidade do local era muito diferente. Ao ser internado, o garoto apanhava dos meninos mais velhos com freqüência, o que despertou em seu temperamento ódio e raiva para com as outras pessoas. Alimentação e alojamento eram precários. Viveu no local até os treze anos, registrando um total de 247 tentativas de fuga, obtendo êxito em 132 ocasiões. Quando livre nas ruas, envolveu-se com furtos, drogas e com uma gangue formada por menores abandonados. Passou a não ter mais contato com a mãe, que deixou de visitá-lo pelo motivo de não ter dinheiro suficiente para a passagem de ônibus. Nunca chegou a conhecer o pai. Em uma de suas fugas, quando foi recapturado e levado novamente ao internato, despertou a atenção de uma pesquisadora francesa, Margherit Duvas que visitava o local para formular sua tese de doutorado. A jovem senhora encantou-se com a introspecção do menino e sua habilidade com rimas, realizando uma entrevista com o mesmo, que só aceitou o convite pela curiosidade no gravador que Margherit utilizava. Passou a visitá-lo com frequencia, com a justificativa de coletar mais dados para sua pesquisa, mesmo recebendo inúmeros insultos do garoto. Juntamente com outros internos, Roberto arquitetou mais uma fuga (geralmente fugia sozinho), na esperança de ser recebido novamente no bando do qual fazia parte, mas a tropa havia mudado de líder, que achando abusiva a atitude do menino (vale ressaltar que ele era o menor do grupo, sofrendo com o descaso dos outros membros), o abusou sexualmente, abandonando-o na linha do trem para morrer. Após sobreviver a este episódio, Roberto finalmente resolveu procurar a ajuda da única pessoa que realmente se importava com ele; Margherit, que comovida com o apelo do garoto, resolveu por adotá-lo. Alertada pelo conselho tutelar de que Roberto era "irrecuperável", sofreu inúmeros apelos para que desistisse de sua idéia, mas firme em sua decisão, consumou o ato, voltando à Paris após três anos, levando Roberto consigo. A partir dai, estava firmado um laço muito forte entre os dois, uma ligação idêntica de uma mãe para com o filho. Chegou à Europa com a idade de treze anos completos, indo morar em Marseille. Lá completou seus estudos (até então não era alfabetizado), dominando o dialeto francês com fluência. Aos dezenove anos retornou a Belo Horizonte, ingressando na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Após concluir o curso superior, retornou a mesma Febem, assumindo o cargo de estagiário. Além de desenvolver esta atividade, em suas horas vagas entretia os internos contando-lhes estórias. Possuía um dom nato como orador. Passado algum tempo que Roberto havia voltado a Minas, foi visitar sua mãe, que ao vê-lo (o reconheceu no mesmo instante), perguntou-lhe no que o filho tinha se transformado; em vagabundo ou homem de bem. Ele respondeu que era professor, dando um forte abraço na mãe, após quase doze anos sem nenhum tipo de contato. Apesar de passar tanto tempo longe do filho, nunca deixou de acreditar que um dia ele voltaria para casa, transformado em um cidadão de respeito. Margherit faleceu em Marseille vítima de tabagismo enquanto Roberto estava no Brasil. Meses antes de sua morte, concedeu uma entrevista ao diário francês Le Monde, no qual faz duras críticas ao programa de reabilitação para jovens brasileiros, acusando políticos e autoridades de manter centros nesse molde com o fim de desviar verbas públicas, alegando que são para a melhoria dos internos. Também acusou o programa de ilusório, pois a única formação que os internos recebem é a de aprender a viver nas ruas, e não na sociedade, de maneira digna. A entrevista foi publicada na primeira página do jornal, recebendo atenção do Mundo inteiro, chegando a ser tema de discussão em uma reunião da ONU (Organização das Nações Unidas). Ela havia cumprido bem o seu papel. Questionada em inúmeros aspectos quando decidiu adotar o menino, disse apenas a seguinte frase: "Nenhum garoto de treze anos é irrecuperável". Atualmente, Roberto Carlos Ramos reside em Paris, com sua família de quatorze filhos (todos adotados), trabalhando como escritor, pedagogo e narrador.
É reconhecido como um dos dez melhores contadores de histórias do Mundo. Na América do Sul, ocupa a primeira posição.
"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim"
Francisco de Paula Cândido Xavier

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